Eu quis ver o nascer do sol, mas
olhei para o lado errado. Conforme o dia foi passando eu fui me virando, de
forma que eu sempre acabava no lado mais escuro. Então eu me tornei mais
escura. Ou mais desbotada. Quem sabe os dois ao mesmo tempo. Esse desejo de não
se pertencer e ao mesmo tempo de ter total compreensão de todos os meus
sentidos me fode. Eu preciso experimentar, eu preciso tocar, eu preciso sentir,
mas eu quero fazer tudo isso de pijamas em baixo do meu cobertor.
Enquanto a minha face demonstra tédio
meus pensamentos se acumulam e se atropelam. Crise de burguesinha o teu cu. Mil
e quinhentos futuros diferentes apontam para duzentas mil escolhas, mas no íntimo
eu sei que é só uma e para um só lugar. A tosca impressão de que mudar os ares
vai mudar alguma coisa. Na verdade muda, muda a vontade que não é muda de
querer mudar mais ainda.
Eu queria ter um mundo, mas não
consigo ter um quarto. O guarda chuva incomodo que, por preguiça, nunca é
aberto na garoa. Sei lá, nem sei, é essa bosta aí mesmo.
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