A liberdade está na dor.
Disseram-me: "Você nasceu de novo". Não. Eu voltei à morte. Ou melhor, ao
purgatório, porque a morte deve ser um descanso, e de descanso isso não tem
nada. Purgatório. Andamos de um lado ao outro escolhendo qual a dor nos atrai
mais. E elas são tantas e de diferentes cores, sabores e formas. Elas estão nas
vitrines, nas prateleiras, nos outdores, nas rádios, na TV... Você tem o livre
arbítrio para escolher onde, como e quando vai se arruinar.
Somos todos zumbis tentando
acreditar que o convite VIP ou a camiseta com um jacaré costurado vai nos
tornar em algum aspecto melhor que o cara na fila do albergue. “Por quê?” Foi a
pergunta que eu mais ouvi. E me parece completamente descabida. Como “Por quê?”? Abra realmente
seus olhos e a pergunta se responde.
Quando Cartola cantou “Preciso me
encontrar”. Era isso. Devia ser isso. Uma epifania um tanto quanto hipponga. Digam
o que quiserem. Às vezes me parece mais certo sentir a dor. É que ela me
acompanha a tanto tempo que parece que sem ela eu não sou eu. Ela tornou-se
parte da minha personalidade. Acho que se eu a perdesse, perderia também parte
do que sou. A dor esteve presente em todo e qualquer relacionamento meu. “Queria
ser como os outros e rir das desgraças da vida ou fingir estar sempre bem, ver
a leveza das coisas...“
Eu não quero nada disso e ninguém
vai conseguir me forçar a engolir essa bosta toda. Mas a minha fraqueza vai. O
meu comodismo e a minha preguiça me manterão no purgatório. “Tudo passa, tudo
passa” é o que eu vivo a escutar.
Mentira. Não passa. Machuca e
fica bem ali, mostrando a que veio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário