terça-feira, 30 de julho de 2013

Wishlist

Existe, não mais do que sempre, a necessidade de me encontrar, mas eu só me escondo de mim. O chocolate não funciona mais. Não quero me ver no espelho. Meu corpo envelhece uma década por semana ao mesmo passo em que minha mente retrocede no tempo. Eu quero ter outra forma, outro rosto, eu quero não me reconhecer mais do que nesse momento. Eu quero me surpreender comigo. Eu quero ser o meu deus, pai, mãe, filho, o espirito e o santo. Eu quero ser você. Eu quero não ser ninguém. Eu quero mais receitas azuis. Eu quero misturar os tempos verbais e os sujeitos. Eu quero estar sujeita. Eu quero ser todos os meus discos e meus livros, minhas fotografias e minhas paixões. Eu quero tudo, nada, ao mesmo tempo e agora.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Qualquer merda

Eu quis ver o nascer do sol, mas olhei para o lado errado. Conforme o dia foi passando eu fui me virando, de forma que eu sempre acabava no lado mais escuro. Então eu me tornei mais escura. Ou mais desbotada. Quem sabe os dois ao mesmo tempo. Esse desejo de não se pertencer e ao mesmo tempo de ter total compreensão de todos os meus sentidos me fode. Eu preciso experimentar, eu preciso tocar, eu preciso sentir, mas eu quero fazer tudo isso de pijamas em baixo do meu cobertor.
Enquanto a minha face demonstra tédio meus pensamentos se acumulam e se atropelam. Crise de burguesinha o teu cu. Mil e quinhentos futuros diferentes apontam para duzentas mil escolhas, mas no íntimo eu sei que é só uma e para um só lugar. A tosca impressão de que mudar os ares vai mudar alguma coisa. Na verdade muda, muda a vontade que não é muda de querer mudar mais ainda.

Eu queria ter um mundo, mas não consigo ter um quarto. O guarda chuva incomodo que, por preguiça, nunca é aberto na garoa. Sei lá, nem sei, é essa bosta aí mesmo. 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

That's me in the corner

 Oh, no I've said too much, I haven't said enough. Eu não acreditei quando essa música tocou. Eu já tinha decidido que ficaria na cama e perderia o café da manhã, mas quando essa música tocou eu levantei da cama no mesmo momento e saí a gritando pelo corredor. Abri meu armário para pegar minhas roupas e tomar um banho, mas continuei cantando.
Duas mocinhas, provavelmente estagiárias porque estavam de jaleco branco, se aproximaram e uma delas perguntou: “A gente pode conversar com você?”. Respondi que sim e as levei até o meu quarto, onde eu ficaria mais a vontade.
Elas perguntaram exatamente o que eu previa. Então eu lhes dei o que queriam. Falei tudo. Tudo. Primeira infância, adolescência, tratamentos já feitos, remédios que eu já havia tomado, e o principal: o motivo de eu ter ido parar naquele lugar - o que na verdade foi sendo explicado ao longo da conversa. Elas agradeceram a oportunidade e foram embora. Eu fiquei ali, rindo, imaginando a bem possível chance de aparecer ali algum estagiário que seja meu colega, um conhecido.

Já que estava acordada fui tomar café e os remédios da manhã. Fazia frio, mas o céu estava azul e com um sol forte. Deitei na grama - Isso é o que eu mais sinto falta daquele lugar, qualquer coisa que eu fizesse lá dentro não causava surpresa a ninguém – Fechei meus olhos e cantarolei a música novamente. Oh fuck, that was just a dream.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Em construção

E o que fica depois do cano no estômago, da UTI, da clínica da sanidade? Fica a certeza de ainda não ter se encontrado, a certeza de que os problemas seguirão sendo os mesmos. Sim, às vezes como uma ou outra coisa de diferente, mas basicamente os mesmos.
Oito pílulas e cinco gotas ao dia pra nunca mais ter que saber quem eu sou.
Insatisfação crônica deveria ser catalogada e ter seu próprio CID. E aí vem a ânsia de continuar me procurando, em continuar experimentando de tudo pra saber se faz parte de mim ou não.
Mas e se eu sou o que eu tinha que ser? Destino? Não sei, não sei, não sei, não me perguntem. Eu sou a soma de tudo que já vi, ouvi e toquei. Eu sou o resultado de tudo que usei, de tudo que comi. Eu sou a mistura de todos os lugares por onde passei e de todas as pessoas que conheci. Eu declaro, hoje, estar em construção até o fim do meu último dia de vida.


terça-feira, 9 de julho de 2013

Ensaio sobre ela

E o que tem me mantido sã é o amor dessa menina. O amor que eu nem mereço, mas agarro inteirinho pra mim. O seguro como alguém que tenta prender o último suspiro vital. É como se esse amor, que não faz parte do mundo e nem de suas sujeiras, fosse minha última chance de sentir algo bom nesse purgatório.
E eu desminto a despedida e fico sempre aqui, aonde você pode alcançar quando quiser. 
Não existe a possibilidade de não te amar... Mas olha, cuidado, conforme a psicóloga disse, eu sou um problema. Obrigada por tudo e desculpa por toda a imbecilidade impulsiva com a qual eu levo minha vida. Te amo.


segunda-feira, 8 de julho de 2013

Lancem-me a fogueira


A liberdade está na dor. Disseram-me: "Você nasceu de novo". Não. Eu voltei à morte. Ou melhor, ao purgatório, porque a morte deve ser um descanso, e de descanso isso não tem nada. Purgatório. Andamos de um lado ao outro escolhendo qual a dor nos atrai mais. E elas são tantas e de diferentes cores, sabores e formas. Elas estão nas vitrines, nas prateleiras, nos outdores, nas rádios, na TV... Você tem o livre arbítrio para escolher onde, como e quando vai se arruinar.
Somos todos zumbis tentando acreditar que o convite VIP ou a camiseta com um jacaré costurado vai nos tornar em algum aspecto melhor que o cara na fila do albergue. “Por quê?” Foi a pergunta que eu mais ouvi. E me parece completamente descabida. Como “Por quê?”? Abra realmente seus olhos e a pergunta se responde.
Quando Cartola cantou “Preciso me encontrar”. Era isso. Devia ser isso. Uma epifania um tanto quanto hipponga. Digam o que quiserem. Às vezes me parece mais certo sentir a dor. É que ela me acompanha a tanto tempo que parece que sem ela eu não sou eu. Ela tornou-se parte da minha personalidade. Acho que se eu a perdesse, perderia também parte do que sou. A dor esteve presente em todo e qualquer relacionamento meu. “Queria ser como os outros e rir das desgraças da vida ou fingir estar sempre bem, ver a leveza das coisas...“
Eu não quero nada disso e ninguém vai conseguir me forçar a engolir essa bosta toda. Mas a minha fraqueza vai. O meu comodismo e a minha preguiça me manterão no purgatório. “Tudo passa, tudo passa” é o que eu vivo a escutar.

Mentira. Não passa. Machuca e fica bem ali, mostrando a que veio. 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

All thru' the day I me mine I me mine I me mine

 Eu queria ser a essência e não o essencial. I me mine I me mine I me mine. Eu queria sentir a substância da vida em mim, e não biologicamente, para isso basta-me respirar. Mas eu queria mais, eu queria emanar a vida, não a vida física, para isso bastaria que eu engravidasse. Mas é ainda mais, é ainda maior. Você não vai entender, e se entendeu eu não preciso mais explicar. Existem dois tipos de pessoas: as que entendem o conto do ovo da Clarice Lispector e os que não.
Mas conviver com essa dualidade espiritual é complicadíssimo. Parte de mim quer passar o dia acampando próximo a uma cachoeira, e a outra entre as ruas movimentadas da cidade. Eu busco o agito na calma e a calma no agito. Não importa o lugar, eu nunca estou satisfeita. E aí acontecem aqueles momentos em que eu deveria chorar e eu entro em um estado letárgico, ou então que eu deveria ter calma e eu simplesmente grito o mais alto que eu consigo.
O equilíbrio emocional, pelo menos pra mim, será sempre um sonho. Ah chega disso. Só quero contar pra vocês que hoje foi um dia de conversar difíceis, mas no fim dele eu presenciei o entardecer mais bonito que já vi. Era um azul celeste misturado a um bem clarinho em meio a uma tênue linha lilás. Observei luzes de casas ha pelo menos 20 km de distância da minha. Eu me senti viva, e fazia tempo, muito tempo que eu não me sentia assim.


terça-feira, 2 de julho de 2013

Limítrofe

Há cinco anos comecei com essas frases na parede... era pra ser só uma. Mas a cada decepção, a cada mentira, a cada resposta negativa ao que eu queria, a cada horror a meu reflexo no espelho, lá se ia mais uma frase. Hoje já não há mais espaço nem para uma palavra monossilábica. 
Mas é sobre o horror a mim que eu quero escrever, foda-se o que vocês vão pensar sobre isso.
Eu vivo entre a minha vanglorização e o meu autodesprezo. E não, isso não muda de um dia para o outro. Isso não depende da roupa ou da maquiagem que eu esteja usando. Isso muda em questões de segundo. Isso sou eu. Ou isso sou eu tentando achar o meu eu. Eu não sei ouvir críticas, nunca soube, no entanto as mais pesadas que já ouvi vieram da minha própria mente. Assim como as cobranças, as maiores delas são feitas por mim mesma. E de segundo em segundo eu vou me denegrindo, me anulando, me levantando, me colocando em uma posição inalcançável.
O quarto escuro é tão confortante, mas briga com a ideia de alguém no travesseiro ao lado, com gavetas divididas, com pernas entrelaçadas. É isso, ou melhor, isso é uma das coisas que eu não entendo. Quando, em certas circunstâncias, algumas pessoas tiveram que falar sobre a minha personalidade elas foram unânimes em dizer: “Ela é uma garota decidida, sabe muito bem o que quer”. WTF? Eu queria muito, mas muito mesmo que essas pessoas me contassem aonde é que elas viram isso em mim, porque eu simplesmente não consigo nem decidir se vou tomar chá ou café de manhã, quanto mais as outras coisas importantes que somos todos obrigados a decidir como, por exemplo, casar ou comprar uma bicicleta.

A única certeza, a única escolha correta que eu sinto ter feito em minha vida foi o curso (de Jornalismo), porque o resto meu bem... Foi uma porcaria em cima de outra. Não, não é bem assim, até que tive alguns acertos... Aí, minha cabeça mudou de novo. Mas vou ficar aqui, com meu amor e meu ódio próprio disputando os segundos da minha existência. E que vença o melhor.