terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Para o futuro, sem amor

É bom que você saiba: eu não conheço a palavra moderação. Ou é muito ou é nada, dispenso o meio termo, o equilíbrio. Sim, é verdade, basta um beijo para eu me apaixonar loucamente, querer largar tudo, fugir para o mundo (ou do mundo) com alguém. Mas também é verdade que basta um gesto, um verbo, um pronome, para me desprender loucamente, querer mudar tudo, fugir do teu mundo, de você. O que é morno eu não faço questão de ter, deixo pra outra pessoa. Despeço-me já dando boas vindas a outro alguém, rezando pra solidão não me alcançar. 


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Happiness is only real when you're selfish

She takes the day but I'm grown. Domingos eu não enfeito mais, no máximo sirvo de pinguim de geladeira na mesa do bar. Cor eu não trago mais, no máximo um cinza pra estragar um dia de sol. A imprevisibilidade continua, não para ser interessante para alguém, só pra me foder mesmo. O meu sonho não está em um carro passando por aqui. Preciso sair desse quadrado, respirar as mesmas histórias está me dando alergia. Me pague uma passagem pra qualquer lugar, deixa que a carência fica por minha conta.

Just 'cause you feel it doesn't mean it's there.  

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Disintegration

Não é arrependimento, é frustração. Ser fiel ao que eu sinto custa caro, sempre custa caro. 
Não é arrependimento, é desgosto. Agir na impulsividade me excita, mas me degrada.        
 Não é arrependimento, é doença. Remédio conforta, mas me deixa num estado letárgico.   
Não é arrependimento, é decepção. Olhar para o passado e não ser nem metade do que eu queria. 
Não é arrependimento, é egoísmo. Amar em um minuto, deixar de amar em dois segundos.                       
Não é arrependimento, é cansaço. De ver todo dia os mesmos lugares, as mesmas pessoas.  
Não é arrependimento, é confusão. De pensar em tudo o que eu não sou, no que eu deveria fazer.                                                                                         
Não é arrependimento, é mágoa. Do pai, do filho, do espírito e do santo.                                 
Não é arrependimento, nunca foi. 

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Quase cinco

Acho que eu vim com defeito. Não desses que são visíveis, ou que podem ser encontrados com exames médicos. Aliás, acho não, as receitinhas mensais comprovam isso. Esse defeito é não saber ser amada, e ao mesmo tempo ter necessidade disso. Enquanto a carência patológica me pede uma coisa, o meu outro extremo renega, e aí fico eu, mais uma vez sendo a pessoa mais feliz e mais triste por estar sozinha. O sonho de uma aliança dourada na mão esquerda se perde no do passaporte lotado, sem, por algum motivo que eu ainda não entendo, deixar que eles se misturem. E no fim o que eu posso oferecer a quem fez de tudo para preencher meus vazios é a dor, é a dúvida, é a incredulidade no amor.
E pra mim? Pra mim ficam as canções tristes, as memórias dos primeiros beijos, dos primeiros “eu te amo”, dos pedidos de namoro, de casamento... Aquela sensação gostosa do primeiro encontro acompanhado de “quando a gente vai se ver de novo?”, o que geralmente não leva nem 48 horas para acontecer. E o amor? Onde eu coloco o amor que acompanhou isso tudo? O amor fica no fundo da gaveta, na foto que eu ainda escondo em algum lugar, naquela peça de roupa que acabou ficando aqui, nas cartas trocadas, no riso frouxo ao lembrar alguma velha piada.

Sei que uma hora, de algum jeito, a vida vai me colocar no outro lado das coisas, eu vou sentir na pele toda a dor que eu causei, por outra pessoa que não vai saber ser amada também. 

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Oito do dez

Então eu me vejo aqui, no mesmo espaço de um ano atrás, mas num contexto completamente diferente e, mesmo assim, por dentro é como se esse dia tivesse durado 365. Inocência foi me remendar, o que se aceita com defeito não tem devolução. Respiro. Nem sei o porquê, mas respiro, fui ensinada assim, achando que me manter sã é respirar. Mas não é, me manter sã custa mais que o meu salário por mês. Queria pular de pensamento em pensamento, de choro a sorriso, de impulso a impulso, sem ser aconselhada a tomar mais uma pílula. Sem ela pelo menos eu posso gritar, explodir, rir, sentir, sumir. Esse é o pequeno manifesto daquilo que eu ainda não vivi.

domingo, 29 de junho de 2014

Sobre não ser

Não te quero, resmunguei ao espelho. Ouvi a mesma coisa dos teus lábios. Imaginei tudo em branco e preto até se tornar o meu real. Fiquei quebrada, estática, mas quebrada. Recusei-me a tal ponto de me abandonar, de passar a me ver por fora. Não gostei do que vi. Tentei me fugir, troquei de RG, troquei de estado, mas a sombra ainda me perseguia, queria encostar em mim. Senti nojo. Dessa pele, desse rosto, do meu sangue, dessa alma - seja lá o que isso for. Você disse que passaria, que eu nem lembraria mais, que eu iria rir disso tudo. Mentira. Houve um tempo em que eu queria me encontrar, hoje eu só quero me esquecer.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

There there

Não vai, não dá, não encaixa. Eu. Eu não caibo. Praia, casa, apartamento, rua, nada, nada disso. Queria que minha prepotência vencesse ao menos uma vez e me colocasse num universo paralelo. Quem sabe viver fora de mim, me tornar outro corpo, outro espírito. Fiquei um ano sem chorar, um ano inteiro seca, mas aí veio, veio do nada essa coisa estranha, essa sensibilidade de merda que me coloca dentro de tudo o que eu nego. Não tenho tempo pra isso, não tenho saco pra isso, não tenho dom para lidar com o meu ego. Não me quero. Será que eu não me entendo? eu não me quero, eu preciso me ouvir, EU NÃO ME QUERO. Querido eu, não me venha com desculpas, porque eu não me quero, NÃO ME QUERO.

segunda-feira, 24 de março de 2014

My only sunshine

E eu, que achava que era possível ser só, nunca me enganei tanto. Você não me completa, você soma, e somou tanto que se tornou uma parte nova de mim, uma parte que eu não sei mais viver sem, uma parte que se tornou vital. Nunca errei tanto, nunca me machuquei tanto por machucar alguém. Agora tudo que eu posso pedir é para aquilo que chamam de Deus se meter nessa história e fazer você esquecer toda a merda que eu sou.

I need your lovin' like the sunshine

quinta-feira, 20 de março de 2014

Mal me quero

E de tanto se doar a tudo acabou não cabendo em lugar algum. Não queria nada para chamar de seu, nem ela mesma se pertencia. Tentava encaixar suas lacunas nos minutos de outras pessoas, sem perceber que que a dor era só dela e de mais ninguém, que é falta de educação tentar compartilhar a dor. Não conseguia mais ser carne, só pensava em atrasar ainda mais sua evolução espiritual, até porque nunca achou o seu espírito, nunca o viu, nunca o tocou, então chegou a conclusão de que ele nem existia. Acordava e dormia dizendo para si mesma "o problema não é ser só, o problema é só ser". Ela vive de contradição, ela vive do próprio erro, ela vive da ausência de alma. Ela precisa do extremo, por que o razoável, o normal, já não lhe faz efeito.  

"Por favor alguém me dê um coração, porque este já não bate nem apanha"

quinta-feira, 13 de março de 2014

Um pote até aqui de mágoa

Vou por ali, naquela esquina em que tanta gente também já pisou. Paro, tem uma poça na calçada, uma poça no meu caminho, uma poça que atrapalha tudo, não por ser uma poça, mas por ser um espelho. Não quero espelho, quero ser translúcida. Gargalhada, aquela que explode só dentro de mim, é a minha estupidez em forma de som. Eu posso ouvir cada maldito átomo do meu corpo se desintegrando. Corpo barulhento do caralho que não me deixa dormir. A cor tem cheiro, a sombra é sólida e tridimensional. E não, isso não é efeito de nada além da minha própria ignorância cósmica. Volto a mim (a quem?), a poça continua me encarando, poça filha da puta. Atravesso a rua fingindo que nem a vi. Mentira, eu sei que é mentira, desconfio que ela também, porque me olhou assim, de lado, de canto, com cara de quem viu e não gostou, mas acho que ela também quis fingir não ver.





quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Diz sou e sua

Ao toque,
apenas o corpo responde
Ao gosto,
o prazer não teme,
não se esconde

Suando grita:
- Sou sua!
e assim segue
seminua

Vem sempre, não some
Vem sim, meu bem,
porque no fim do dia
sempre tenho fome

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Aversão

Atentou contra a vida uma, duas, três, quatro vezes e sabe lá deus quantas mais. Renegou o próprio reflexo e se desfez. Alterou entre o devaneio e o real tantas vezes que acabou condensando tudo, o que tornou sua existência um pouco menos medíocre. Imergiu-se em vidas encenadas, em amores cinematográficos, em cenários surrealistas, em tragédias em branco em preto. Desejou mofar entre o azul e o lilás. Escreveu e apagou tantas vezes que se desletrou. Percebeu que só tinha um desejo: diluir-se.