terça-feira, 4 de novembro de 2014

Quase cinco

Acho que eu vim com defeito. Não desses que são visíveis, ou que podem ser encontrados com exames médicos. Aliás, acho não, as receitinhas mensais comprovam isso. Esse defeito é não saber ser amada, e ao mesmo tempo ter necessidade disso. Enquanto a carência patológica me pede uma coisa, o meu outro extremo renega, e aí fico eu, mais uma vez sendo a pessoa mais feliz e mais triste por estar sozinha. O sonho de uma aliança dourada na mão esquerda se perde no do passaporte lotado, sem, por algum motivo que eu ainda não entendo, deixar que eles se misturem. E no fim o que eu posso oferecer a quem fez de tudo para preencher meus vazios é a dor, é a dúvida, é a incredulidade no amor.
E pra mim? Pra mim ficam as canções tristes, as memórias dos primeiros beijos, dos primeiros “eu te amo”, dos pedidos de namoro, de casamento... Aquela sensação gostosa do primeiro encontro acompanhado de “quando a gente vai se ver de novo?”, o que geralmente não leva nem 48 horas para acontecer. E o amor? Onde eu coloco o amor que acompanhou isso tudo? O amor fica no fundo da gaveta, na foto que eu ainda escondo em algum lugar, naquela peça de roupa que acabou ficando aqui, nas cartas trocadas, no riso frouxo ao lembrar alguma velha piada.

Sei que uma hora, de algum jeito, a vida vai me colocar no outro lado das coisas, eu vou sentir na pele toda a dor que eu causei, por outra pessoa que não vai saber ser amada também. 

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