Acho que eu vim com defeito. Não desses que são visíveis, ou
que podem ser encontrados com exames médicos. Aliás, acho não, as receitinhas
mensais comprovam isso. Esse defeito é não saber ser amada, e ao mesmo tempo
ter necessidade disso. Enquanto a carência patológica me pede uma coisa, o meu
outro extremo renega, e aí fico eu, mais uma vez sendo a pessoa mais feliz e
mais triste por estar sozinha. O sonho de uma aliança dourada na mão esquerda
se perde no do passaporte lotado, sem, por algum motivo que eu ainda não
entendo, deixar que eles se misturem. E no fim o que eu posso oferecer a quem
fez de tudo para preencher meus vazios é a dor, é a dúvida, é a incredulidade
no amor.
E pra mim? Pra mim ficam as canções tristes, as memórias dos
primeiros beijos, dos primeiros “eu te amo”, dos pedidos de namoro, de
casamento... Aquela sensação gostosa do primeiro encontro acompanhado de “quando
a gente vai se ver de novo?”, o que geralmente não leva nem 48 horas para
acontecer. E o amor? Onde eu coloco o amor que acompanhou isso tudo? O amor
fica no fundo da gaveta, na foto que eu ainda escondo em algum lugar, naquela
peça de roupa que acabou ficando aqui, nas cartas trocadas, no riso frouxo ao lembrar
alguma velha piada.
Sei que uma hora, de algum jeito, a vida vai me colocar
no outro lado das coisas, eu vou sentir na pele toda a dor que eu causei, por
outra pessoa que não vai saber ser amada também.
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