segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Eu expus meu corpo à faca e a viola escondi

Eu sou expansiva mesmo, eu gosto de me derramar, de me transbordar. Mas não faço isso por mal não, faço isso porque meu corpo e minha alma são tão pequenos para guardar todos os meus sonhos, os meus afetos, os meus desejos.A ânsia de me jogar pro mundo é tanta que eu me perco em mil oceanos, em várias portas abertas, e em algumas histórias alheias. Eu quero tudo, eu quero todas. E todos. Eu quero por um segundo, eu quero pra vida toda. Sigo querendo, sigo me jogando. Mergulhando. Até não dar mais pé, até me afogar. 

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Dê um rolê

Eu tinha sete anos e já tinha sérias expectativas no amor. “- Alguém que diga que me ame todos os dias, que me leve café na cama, que goste de conversar e que diga que eu sou a mulher mais linda do mundo”, eu dizia para o motorista do ônibus escolar, que ria da minha inocência pretenciosa e respondia: “- Com tanta exigência, vai ser difícil heim?”
Não foi difícil. Ao longo do caminho eu encontrei pessoas que faziam isso tudo e mais um pouco e mesmo assim não foi o suficiente. Mas, afinal de contas, o que a gente espera do amor? Que ele seja apenas uma forma de massagear do ego? Que seja um certificado de que você é uma pessoa com atributos suficientes para ser “escolhida” por alguém?
Não sei. Quando eu acho que cheguei à resposta, lá vem a vida me mostrando que eu tô errada, e como estou errada. Não basta só cafezinho na cama, beijinho de bom dia, palavrinha bonita ao pé do ouvido, tudo no diminutivo mesmo.

A verdade é que o amor próprio é muito mais importante que o amor conjugal. E quando o amor por outra pessoa faz com que você diminua o amor por você – ou que você se sujeite a fazer coisas, ou passar por situações, que afetem negativamente esse amor - é hora de repensar. 

terça-feira, 12 de maio de 2015

E não acorda mais

Dia desses, desses dias tolos, desses dias tantos, desses dias santos, desses dias loucos, desses dias profanos, acordo com mais sono do que antes, mais sono do que sempre. Uma noite em vão, Tem suor e cansaço, não daqueles ocasionados por uma noite de prazer, nem em sonho, é cansaço e suor que não presta, cansaço e suor que fazem você parar em um lugar isolada do mundo por pelo menos quinze dias. E você sente vontade de ir. Quase dois anos do primeiro isolamento, e ainda assim parece ontem, parece hoje, agora, esta noite, amanhã e depois. É que tudo isso me faz revirar tanta coisa aqui dentro, coisas que pedem pra dar a cara, mas que eu tento sufocar por saber que só cabe em mim e que não tem lugar nesse mundo não, vai morrer em mim. O mundo morre em mim.  

terça-feira, 14 de abril de 2015

De passagem

Amo. Amo porque é leve e denso, e porque essa contradição é o que eu sou. Amo porque meu amor é exagero e ainda assim você absorve. Amo porque cada palavra tua é única e tem inúmeros significados. Porque teu riso te ilumina, e, confesso, gosto de ficar perto pra pegar um pouco desse brilho também. Teu cabelo quase sempre bagunçado, teus olhos que nunca estão completamente abertos, esse sorriso, esse corpo que eu não canso de olhar. Tudo, tudo em ti é poesia. Você é Drummond, é Moraes, é Leminski, é Chacal, é poema parnasiano, naturalista, contemporâneo, construtivista. E, principalmente, amo porque não existe a necessidade de se completar, a tua alma já é absoluta e a minha também, juntas transbordamos.



quarta-feira, 11 de março de 2015

Idioteque

Corpo material presente, eu não. Há um "eu" para estar? Desde quando? Não me lembro de ter estado nem sequer uma vez. Volvi para mi conocida soledad. Alguém dizia sempre estranhar as minhas frases curtas, acontece que eu sinto de acordo com o manual de redação da minha profissão: meu sofrimento é conciso. Só a objetividade é que me foge, porque sofrer de maneira objetiva já é pedir demais. Mas eu tento, com remédios e exercícios de respiração toda vez que a sanidade ameaça me abandonar outra vez. Un poco de miedo, pero si es para ti me voy. Olho de dentro da fora, porque há outras maneiras de olhar, mas essa é a que incomoda menos. Um consolo: sentir. Tudo pode doer, ferir, sangrar, mas pelo menos saí do estado atônito, tô viva, meu sangue é quente, vivo, eu tô viva, VIVA, e isso vale qualquer sofrimento.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Da pele preta

Respira, mas não se mexe não, fica assim, bem assim, deixa eu gravar esse sorriso na minha memória, junto às outras lembranças dos sons mais gostosos para se ouvir a qualquer momento. Não se mexe não, fica assim, bem assim, com o coração numa distância que coloque o meu pra bater na mesma frequência. Não se mexe não, fica assim, bem assim, onde minha boca alcance a sua facilmente. Não se mexe não, fica assim, bem assim, de uma forma que o teu cheiro, morena, não saia mais de mim.