Vamos falar de pesticidas e de tragédias radioativas, de doenças incuráveis, vamos falar de minha vida. Engraçado, quando se é criança sempre temos um ídolo, aquele artista/cantor/banda que defendemos com toda nossa garra. Enquanto todas as menininhas idolatravam grupos como “Sorriso Maroto” e “Jeito Moleque”, lá estava eu achando que Legião Urbana era a coisa mais rock ‘n’ roll surgida no Brasil, e, por conseqüente, Renato Russo nosso maior poeta. Não me julguem, eu tina 10 anos, uma criança.
Depois de nove anos descobri bandas brasileiras bem melhores. Mil vezes melhores. Mas não tiraram o mérito e a magia daquela banda cujos pôsteres forravam meu quarto, e as letras, todo e qualquer caderno meu.
E tinha uma música pra cada momento. Morei numa praia por um tempo, gostava de andar sozinha pela orla. Vento no Litoral. Uma paixão não correspondida? Quem Inventou o Amor?. A descoberta da sexualidade? Meninos e Meninas. Agora tem uma, que ahhh, se ouvir em qualquer lugar eu desmorono... Clarisse. Essa era a música pros piores dias, essa era a música que fazia eco entre as paredes do banheiro, era a música que me arrancava lágrimas, que me arrancava sangue. Muito sangue.
Eu sentia, no fundo da minha alma, que cada uma daquelas músicas era feita pra mim. Era um fanatismo mesmo, mas daqueles fanatismos que só crianças sabem ter.
Ainda guardo os pôsteres e quadros empoeirados em alguma gaveta. Os CDs e discos ficam de fácil acesso, caso queira sentir de novo algum sentimento perdido lá naqueles anos. Anos estes em que meu problema maior se resumia em convencer minha mãe de que não faria diferença lavar a louça após a janta ou no outro dia, antes do café. Alguém me vê uma máquina do tempo, por favor?
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